Sabryna Ferreira e Giovanni Manzolli/Radioagência Unasp
Seus olhos passam a contemplar uma história de amor. Talvez o texto não te arranque suspiros, mas é possível que te aqueça o coração. Também é provável que você já tenha visto algo do tipo em algum filme clichê, daqueles que os canais de TV abertos exibem à tarde. Talvez você não se surpreenda, mas pode ser que te comova. Esse amor, apesar pouco popularizado, é bastante comum.
Tem gente que é recebida em casa com festa, não importa quantas vezes saiu no mesmo dia. O rabinho frenético que diz “estou feliz porque você voltou” e aquela lambida de “eu te amo” são o motivo de alguns sorrisos nos rostos de gente cansada do dia intenso de trabalho.
Tem gente que não se importa em perder alguns chinelos, almofadas e rolos de papel higiênico novos. Limpar cocô, xixi e dar uma volta na praça todos os dias. Aliás, um carinho é sempre bem-vindo. Mas esta realidade contrasta com a das ruas, onde animais são abandonados com frequência ou sofrem maus tratos. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) estima-se que cerca de 30 mil cães e gatos viviam em 2016.
É por esses animais que existem ONGs como a Adorável Vira-Lata, de Campinas. Ao longo de 6 anos, o abrigo já resgatou e reabilitou cerca de 700 animais. Em média, 60% dos cães da ONG são adotados. Mas o restante continua aguardando a adoção, como na maioria dos abrigos. “Aqui na ONG a gente trata os animais mais doentes que encontramos, mas depois que eles são reabilitados, nem sempre são adotados porque já são adultos”, explica Marynes Silva, administradora do abrigo Adorável Vira-Lata.
Um dos felizardos que está incluído nesses 60% é o cão Billy. Ele foi adotado pela Célia há cerca de nove meses. Quando chegou na casa era tímido, ficava pelos cantos, mas logo se soltou. Sem ter um animal de estimação há mais de 15 anos, por causa do pedido do filho, Simone decidiu adotar o animal. “Fiquei sabendo que a Mary (dona da ONG) tinha vários cães. Fomos conhecer o local e nos apaixonamos pelo Billy à primeira vista”, conta a dona do cachorro. O cãozinho alegra a casa. Com uma lambida Billy acorda filho de Simone todos os dias. “Creio que as pessoas abandonam os animais porque não sabem amar”, desabafa Célia. “O ato de adotar, é muito gratificante, se pudesse adotava todos”, confidencia entre risos.
RevelaCÃO
O abrigo Adorável Vira-Lata, primeiro lar de Billy, depende exclusivamente de doações, que nem sempre são suficientes para suprir os gastos. Um levantamento feito pela prefeitura de Campinas mostrou que, só em março do ano passado, cerca de 1533 foram abandonados nas ruas da cidade. Para reverter essa situação, a Adorável Vira-Lata, em parceria com a fotógrafa Renata Montovanele, deu origem ao projeto RevelaCÃO, que visa levantar fundos para a manutenção dos animais. “Como tudo o que se faz aqui depende de doação, a grande dificuldade que nós temos é a falta de ração, vermífugo e remédios para os cães em reabilitação”, ressalta Marynes. Outro problema relatado por Marynes é a dívida de cerca de R$ 10 mil para uma clínica parceira, que faz o atendimento dos animais com a saúde comprometida. “A clínica barateia bastante o atendimento, mas ainda assim, cobra. E também existem os gastos com remédios e materiais”, menciona.
O lançamento do projeto acontecerá no dia 23, no Neno’s Bar, em Valinhos, às 19h. O evento terá entrada gratuita e contará com um show de MPB. “Nós pretendemos dar continuidade ao projeto. Queremos fazer mais dois eventos como esse neste ano”, revela Marynes.
As fotos, feitas por Renata, mostram os animais disponíveis para adoção em clima de carnaval. A intenção é atrair novos donos, levantar fundos para o abrigo através da venda de camisas, canecas e chaveiros com fotos dos cães e originar mais casos de amor. “Eu quis fazer algo diferente e lúdico. Que unisse a fotografia, que a minha profissão e minha vontade de ajudar os animais”, conta a fotógrafa. Ela também chama atenção para o fato de muitas pessoas comprarem animais, quando já existem tantos nos abrigos precisando de um lar. “Desde criança eu aprendi a respeitar e cuidar bem de qualquer animal. Nunca me passou pela cabeça comprar um animal”, frisa Renata.
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